19/02/11

CMSHM - CENTRO DE MEDICINA SUBAQUÁTICA HIPERBÁRICA DA MARINHA

(ACTUALIZADO)

Instalações do Centro de Medicina Subaquática e hiperbárica da Marinha (Foto cedida por Tcor Miguel Machado)

          Pelo ano de 1953, dada a premência de apetrechar a Armada com meios de auxílio médico-terapêutico especializado no suporte a possíveis acidentes disbáricos decorrentes do mergulho militar e para salvamento marítimo, foi adquirida a 1.ª câmara de descompressão do país, instalada na Escola de Mergulhadores, sediada na Esquadrilha de Submarinos.
          Deste modo, desencadeia-se de forma pioneira e simultaneamente a Medicina de Mergulho e Hiperbárica, sob tutela do Serviço de Saúde da Esquadrilha de Submarinos.
A câmara de 1953 perante os padrões actuais, encontra-se obsoleto e que foi transferido para o Museu da Marinha.
          Em 1967, é adquirida pela própria Escola de Mergulhadores uma 2.ª câmara hiperbárica, dotada de maior capacidade operacional e do ponto de vista tecnológico, mais desenvolvida que a de 1953.
          Em 1968, inicia-se em Portugal a aplicação da oxigenoterapia hiperbárica, até à data efectuada por recurso a equipamentos de mergulho autónomo de circuito fechado com O2 puro.


Câmara hiperbárica - anos 70 (Foto cedida por Cabo Eduardo Camilo)

          De salientar que o apoio ministrado pelo CMSHM, de forma permanente em regime de serviço de urgência, entrou em funções em Janeiro de 1992.
          Na última década, por via da assistência administrada pelo CMSHM, em funcionamento desde 1989, alcançou-se um aumento da profundidade de intervenção dos Mergulhadores Sapadores da Armada, mediante a adaptação do organismo humano à imersão na ordem dos 91 metros, permitindo à Armada alargar a capacidade de guerra de minas e aperfeiçoar o auxílio ao salvamento marítimo.
          O CMSHM está equipado com duas câmaras multilugar totalmente medicalizadas, instaladas em 1989 e 2001 respectivamente, com capacidade para tratar em simultâneo 24 doentes em posição sentada, quer em estado crítico ou necessitados de ventilação assistida.


Equipamento do CMHSM (Foto cedida pela Marinha Portuguesa)

          De realçar que esta unidade médica militar tem também prestado um verdadeiro serviço público permanente a pacientes militares e à sociedade civil, sua principal utilizadora e beneficiária, no tratamento de patologias hospitalares agudas e crónicas, uma das razões pela qual mantêm-se sediada no Hospital da Marinha.
          No que concerne ao serviço público prestado pelo CMSHM, o mesmo está vocacionado para tratamento de doentes com diferentes patologias, em que o oxigénio (oxigenoterapia hiperbárica) serve de meio complementar de tratamento: infecciologia, cirurgia plástica e reconstrutiva, lesões pós traumáticas, atrasos de cicatrização, lesões induzidas pela exposição a radioterapia, casos clínicos de surdez súbita; afecções oftalmológicas, neurológicas, toxicológicas, gastrenterológicas.

Interior de uma câmara hiperbárica (Foto cedida pela Marinha Portuguesa)

          São um serviço de utilização comum aos 3 ramos das FA’s desde de 1995 e uma referência nacional (reconhecido pela Ordem dos Médicos e Faculdades de Medicina do país) e internacional, constando inclusivo nas listas da NATO ADIVP-2 e "Undersea and Hyperbaric Medical Society" e da "European Underwater Baromedical Society", como autoridade nacional para apoio terapêutico aos acidentes do mergulho.
          O CMSM ministra também acções de formação destinadas a licenciados em Medicina e Enfermagem civis e militares, organiza Congressos e Jornadas de Medicina Hiperbárica e Subaquática, realiza estudos de investigação clínica apresentados em Congressos e Jornadas Médicas (nacionais e estrangeiras) e publicados em revistas periódicas médicas.
          É guarnecido com pessoal de enfermagem e Mergulhadores Sapadores da Armada, para além de Médicos com especialização em medicina subaquática e hiperbárica.


Câmara hiperbárica do CMSHM (Foto cedida pela Marinha Portuguesa)

          Em Portugal, para além do CMSHM existe uma câmara de descompressão nos seguintes Hospitais Públicos:
- Hospital Pedro Hispano em Matosinhos;
- Hospital Central do Funchal na Ilha da Madeira;
- Hospital da cidade da Horta na Ilha do Faial e Hospital de Ponta Delgada na Ilha de S. Miguel - Açores.

          A par do equipamento do CMSHM, no tocante a meios navais a Armada também teve a preocupação de apetrechar navios de superfície com meios de socorro hiperbáricos:
- A 14 de Novembro de 1969, o Draga-Minas "S. Roque" após retirada do equipamento de detecção e rocega de minas e dotado de uma câmara hiperbárica, é atribuído à Esquadrilha de Submarinos para desempenhar as funções de Navio de Apoio a Mergulhadores.
- Em 1997, instalou-se uma câmara hiperbárica no Navio-balizador "Schultz Xavier", passando a servir de Navio de Apoio aos Mergulhadores, substituindo nesta tarefa o antigo Draga-Minas "Ribeira Grande" da classe "S. Roque".
- A 11 de Dezembro de 2003, ao largo de Sesimbra, decorreu o Plano de Certificação de Mergulho Profundo (PCMP), tendo uma equipa de Mergulhadores constituída por 1 Oficial, 2 Sargentos e 8 Praças obtido a certificação em mergulho profundo (mistura de SELF-MIX com HELIOX), atingindo a profundidade de 81 metros com a duração de 1 hora e 17 minutos, a corveta "Baptista de Andrade" serviu como Navio de Apoio embarcando uma equipa médica e uma câmara hiperbárica.
- Em 2004, durante a manutenção da LDG "Bacamarte" no Arsenal do Alfeite, realizaram-se as alterações necessárias para instalação de uma câmara hiperbárica contentorizada e um contentor standard de alojamentos, passando a servir como Navio de Apoio aos Mergulhadores ("DIVING SUPPORT UNIT"), substituindo nesta tarefa o Navio-balizador "Schultz Xavier".
- Em Maio de 2009, uma equipa de Mergulhadores Sapadores "Salvage Diving Team" a bordo da corveta "Afonso Cerqueira", dotada de uma câmara hiperbárica e telefone submarino, participou no exercício "CONTEX/PHIBEX", durante a simulação de uma operação de salvamento do submarino "Barracuda", estabelecendo um circuito de ar fresco entre a Corveta e o submarino, após este ter assentado no fundo de modo a simular ter sofrido um acidente.
- Em Setembro / Outubro de 2010, durante o exercício de mergulho profundo “Deep Divex 2010″ organizado pela Marinha Portuguesa a Sul de Portimão, o Navio-Hidrográfico "Almirante Gago Coutinho" serviu como navio de apoio ao exercício, sendo equipado com duas câmaras hiperbáricas contentorizadas e o CMSH-HM realizou a 1.ª fase de um estudo clínico pioneiro a nível internacional na área do mergulho profundo.


Câmaras hiperbáricas contentorizadas a bordo do Navio-Hidrográfico "Almirante Gago Coutinho", uma da Marinha Portuguesa e outra da Real Marinha Norueguesa (Foto cedida por Tcor Miguel Machado)

Artigo do OPERACIONAL SOBRE O EXERCÍCIO “DEEP DIVEX” em Portugal

8 comentários:

  1. Mais um excelente artigo que bem realça as capacidades da Marinha e do seu Hospital ao serviço de Portugal. Oportuno quando está em risco a continuação da existência do Hospital de Marinha.
    Um exemplo entre muitos: Foi esta câmara hiperbárica que salvou de amputação o pé de uma irmã minha, utente da ADSE. Por uma escara que alguns médicos julgaram não ter retorno e programaram amputar.
    O pé está agora sem uma ferida. A hiperbárica foi decisiva na recuperação.
    António J M Nunes da Silva

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  2. Nos anos 70 aquando da minha permanencia no Serviço de Saúde da Esquadrilha de Submarinos, recepcionávamos e conduzíamos á camara hiperbárica existente, doentes oriundos dos Hospitais Civis de Lisboa.
    Com o tratamento efectuado recorrendo á administração de O2 sob pressão, salvaram-se muitos membros de serem amputados, o que colocou nessa época a Marinha numa posição de destaque em prol dos benefícios que prestou á população civil.
    Estavam então na altura á frente desse projecto os distintos médicos Dr.Manuel Oliveira Carrageta( Cardiologista) e o Dr.Guimarães Ferreira (Clinica Geral)para além do staff clínico composto por Enfermeiros e tendo-me a mim como Ajudante de Enfermagem.
    Foi muito gratificante todo o trabalho pioneiro desenvolvido nessa época do qual guardo gratas recordações pela experiencia adquirida e as amizades efectuadas.
    Bem haja pelo excelente trabalho sobre este tema.
    Camilo
    ex Cabo M 196/70 - Socorrista da Esquadrilha em 1977,1978 e 1979

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  3. olá, me chamo enf. Delmario Magalhães, sou mergulhador profissional e trabalho com Oxigenoterapia Hiperbárica aqui em Aracaju-Sergipe-Brasil. Quero parabenizá-los pelo espaço e tb estou muito orgulhoso com o trabalho de todos vocês.
    Saudações Subaquática!!

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  4. Olá chamo-me Ana tenho 14 anos e já realizei tratamento hiperbárico no Hospital da Marinha em Outubro de 2011. Realizei 25 sessões mas apesar deste tratamento ser eficaz em 1/3 dos casos de surdez súbita, eu não senti grandes melhoras. Apesar de tudo, fui muito bem tratada e dou os parabéns a toda a equipa de mergulhadores e enfermeiros do Centro da Marinha. Obrigada

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    1. Olá Ana, lamento saber que o tratamento não melhorou o teu estado. Diagnosticaram ao meu marido surdez súbida há cerca de 15 dias e se for autorizado, ele irá realizar o tratamento hiperbárico. Ele tem 32 anos e está com medo, pelo que estamos a pesquisar sobre a doença e o tratamento. Não há motivo aparente para o que lhe aconteceu, o que é ainda mais angustiante. Gostava muito que partilhasses a tua experiência connosco, se não te importasses. E espero sinceramente que estejes melhor. Obrigada. Sandra.

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    2. ola ana, poderei saber qual os primeiros sintomas da tua surdez subita?
      Tenho 20 anos e estou a passar pelo mesmo..
      As minhas sinceras melhoras.

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    3. Atualmente os únicos tratamentos disponíveis para a surdez súbita são a corticoterapia e a oxigenoterapia hiperbárica. Infelizmente, desconhece-se a causa da surdez súbita em 90% dos casos. Como sintomas, pode-se ter zumbidos e vertigem. Quanto mais precocemente for instituído o tratamento maior a probabilidade de melhoria.

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  5. Graças a este tratamento, em 1998, o meu Pai António Gil, mergulhador profissional, então com grave problemas de diabetes, conseguiu salvar um pé, sendo amputado sómente um dedo.
    À data, foi das primeiras pessoas a ter o previlégio desse tratamento, graças ao Dr. Manuel Carrageta. Bem Haja a todos que contribuiram.
    Manuela Gil

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